Frases por um real o quilo

Vocês não gostam da minha tristeza, eu sei. Vocês me dão o pão rapidamente pela fresta da porta e me aconselham a ir comê-lo tão longe quanto puder. Eu os respeito, como não respeitá-los? Vocês têm a superioridade da alegria.

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Nós os chamamos em vão, inútil é a nossa voz. Os bárbaros não virão, há muito estão entre nós.

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Dom poético é aquele que até os poetas julgam ter.

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Sábado à noite, nos motéis, os amores que não chegarão a conhecer a poesia gastam-se em camas redondas e redondos enganos.

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Morrer é um verbo que não admite terceirização. É como uma honra irrecusável.

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No fim da vida, tocado pelo altruísmo, o poeta concretista começou a construir poemas populares.

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Talvez a mais notável característica dos mortos seja a circunspecção.

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Vida cruel. Menos a mim, dão a todos o Nobel.

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Sempre fui um pusilânime. Nunca dou ultimatos, só penultimatos.

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Burilar foi uma das perversões criadas pelos parnasianos.

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A cremação tem sido responsável pelo aparecimento de fantasmas chamuscados.

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Escrevo mal, não nego. Melhoro quando puder.

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Erro; logo insisto.

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Devo estar errado, mas vejo certa desfaçatez nos mortos de bigodinho.

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Sou um escritor antenado com o meu tempo. Meu tempo é o final do século XX.

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Não tinha nenhuma razão para morrer – a não ser aquela doença ruim no fígado.

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Assim como ocorre com as mãos de um padeiro, é melhor você não conhecer o coração de um poeta.

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Ato poético é comprar o pão à noite e deixar que amanheça.

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Os epigramas deveriam ser vendidos por quilo.

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A Vida já desistiu de comparar-se à Poesia. Não lhe falta presunção. Faltam-lhe metáforas.

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A intimidade dos poetas com as palavras deve ser como a dos amantes que, um nos lábios do outro, bebem água no chuveiro.
Raul Drewnick