sexta-feira, dezembro 22

Livros, livros, livros

A velha estante que eu tinha na sala foi embora, substituída por uma outra, mais simples, mas que abriga o dobro de livros da antecessora. O processo da troca — tira livro, tira estante, limpa livro, põe estante, arruma livro — me fez pensar muito na nossa relação com os livros. Pois ainda que ler em papel continue sendo uma experiência muito mais completa do que ler em formato digital, e presentear e receber livros continue sendo uma felicidade, guardá-los em casa já não é mais tão necessário quanto era antes dos tempos da nuvem.

Guardamos livros por vários motivos: ou porque têm dedicatórias, ou porque gostamos particularmente deles, ou porque nos lembram momentos específicos das nossas vidas. Alguns, porém, guardamos apenas para garantir o acesso ao seu conteúdo caso tenhamos necessidade disso no futuro; mas, podendo encontrá-los tão rapidamente on-line, fica cada vez mais fácil passá-los adiante. É por isso que iniciativas como o book crossing ou a liberação de livros, em que eles são abandonados ao acaso para que outros leitores os encontrem, se tornaram tão populares.
© Nathalie Jomard
Nathalie Jomard

Nossa relação com os livros está mudando muito rápido, sob todos os aspectos. Quando os primeiros CD-ROMs (lembram deles?) com enciclopédias foram lançados, não botei muita fé na sua universalização. Entendi imediatamente o seu potencial e o que representavam em termos de difusão cultural, mas continuei apegada à minha Britannica e aos dicionários de papel, que me permitiam encontrar, ao acaso, muitas palavras e verbetes interessantes enquanto buscava por outras coisas: esbarrar em “decalcomania”, por exemplo, na busca por “Decamerão”, era uma alegria que o mundo digital não nos proporciona mais. Eu achava, então, que jamais abriria mão do prazer de folhear a minha rica enciclopédia — mas entre ir até a estante, pegar um volume e procurar o verbete que me interessa, ou digitar uma palavra na barra de comando, acabou vencendo a alternativa mais simples.

Livros de referência e o formato digital foram sem dúvida feitos uns para o outro, mas o mesmo não se pode dizer de todos os livros, indistintamente. Quando os primeiros leitores de e-books chegaram ao mercado, muitas matérias foram escritas decretando o fim dos livros em papel. A substituição da velha tecnologia pela nova seria apenas uma questão de tempo, pensava-se então. Mas o tempo, ele mesmo, tem provado que nada é tão simples: no ano passado, as vendas de livros impressos cresceram mais do que as vendas de e-books em mercados como Estados Unidos e Inglaterra, impulsionadas, quem diria, pela preferência dos jovens adultos pelo papel.

Na verdade, nota-se menos uma guerra entre os dois formatos do que um convívio bastante pacífico. Quem gosta de ler compra impressos e e-books indistintamente, dependendo das circunstâncias. Muitas vezes, o mesmo título acaba sendo comprado duas vezes pelo mesmo leitor, em papel para ficar em casa, em formato eletrônico para poder ser levado para cá e para lá. A parte mais recente da minha biblioteca, por exemplo, está tanto na estante quanto na bolsa. Continuo gostando mais dos meus livrinhos em papel, mas também adoro o meu Kindle, cada vez mais bem recheado.

Cora Rónai

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