terça-feira, agosto 15

Assim começa o livro...

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Em algum lugar lá no alto, a lua brilha, gorda e cheia — mas aqui, em Tarker’s Mills, uma nevasca de inverno sufocou o céu com neve. O vento sopra com força pela deserta avenida Center; os limpadores de neve laranja da cidade já desistiram faz tempo.

Arnie Westrum, sinaleiro na Ferrovia gs&wm, ficou preso no pequeno barracão de ferramentas e sinalizadores a quinze quilômetros da cidade; com o carrinho ferroviário movido a gasolina bloqueado pela neve, ele está esperando que a tempestade passe, jogando paciência com um maço de cartas sujas. Do lado de fora, o vento piora até se transformar em um grito agudo. Westrum levanta a cabeça, inquieto, e olha para o jogo novamente. É só o vento, afinal…

Mas o vento não arranha portas… nem chora, pedindo para entrar.

Ele se levanta, um homem alto e magro de jaqueta de lã e macacão da ferrovia, um Camel pendurado no canto da boca, o rosto marcado da Nova Inglaterra iluminado em tons suaves de laranja pelo lampião de querosene pendurado na parede.

Ouve o arranhar de novo. O cachorro de alguém, ele pensa, perdido e querendo entrar. É só isso… Mas, mesmo assim, ele hesita. Seria desumano deixar o animal lá fora, no frio, ele pensa (não que esteja muito mais quente ali dentro; apesar do aquecedor a bateria, ele consegue ver seu hálito condensando), mas hesita mesmo assim. Uma pontada fria de medo o cutuca logo abaixo do coração. Foi uma temporada péssima em Tarker’s Mills; houve presságios de coisas ruins na região. Arnie tem o sangue galês do pai correndo nas veias e não gosta daquela sensação.

Antes que ele possa decidir o que fazer sobre o visitante, o choramingo baixo se transforma em um rosnado. Um baque soa quando uma coisa incrivelmente pesada bate na porta… recua… bate de novo. A porta treme na moldura, e um borrifo de neve entra pelas frestas.

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