segunda-feira, julho 31

Professor da Escola de Medicina defende os livros como remédio para diversos males

Coralie Vallageas
No Laboratório de Leitura montado na Escola Paulista de Medicina (EPM) da Universidade Federal de São Paulo que Dante Gallian pôde perceber como a literatura impactava os leitores de forma afetiva e reflexiva, influenciando diretamente em suas vidas. “Como estávamos num ambiente acadêmico, começamos a abordar essa experiência como um objeto de estudo. Fomos constituindo uma linha de pesquisa que hoje congrega dezenas de pesquisadores e que apresenta uma grande produção científica com alta qualidade. Hoje, temos pesquisado os efeitos da aplicação do Laboratório não só no campo da saúde – na formação ética e na humanização dos futuros profissionais; como meio recuperação de pacientes psicóticos… –, mas também no âmbito das grandes corporações e setores específicos da sociedade, como grupos da terceira idade”, conta.

Dante é formado em História pela USP, onde fez seu mestrado e doutorado. Seu pós-doutorado veio pela École des Hautes Études em Sciences Sociales, de Paris, e desde 1999 é professor e diretor do Centro de História e Filosofia das Ciências da Saúde da EPM. Grande entusiasta da leitura – acredita que ler é um ato revolucionário -, teve sua vida impactada por clássicos como “A Odisseia”, de Homero; “A Divina Comédia”, de Dante; “Dom Quixote”, de Cervantes; “Hamlet”, de Shakespeare; “Os Irmãos Karamázov”, de Dostoiévski e “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa.

Por ter aprimorado sua experiência de “ser e estar no mundo” graças aos livros que enveredou suas pesquisas para essa área. Os estudos resultaram em “A Literatura Como Remédio – Os Clássicos e a Saúde da Alma”, obra lançada há pouco pela Martin Claret, na qual fala sobre os resultados alcançados no Laboratório de Leitura. “Ali, a leitura compartilhada tem se apresentado como um elemento coadjuvante de grande poder em pacientes psicóticos ou como meio de combate à depressão em pacientes da terceira idade. Sendo um remédio que afeta primordialmente a alma, a psique, a literatura ajuda a reverter e mesmo a curar enfermidades de origem psíquica e emocional, que são as mais prevalentes no mundo atual”, diz na entrevista abaixo.

Dentre os problemas que um bom livro pode combater, Dante aponta principalmente para um que define como “predominante e crônico em nossos dias”: a ansiedade, algo diretamente relacionado à constante pressa a qual quase todos parecem estar submetidos. “Vivemos um tempo em que tendemos a privilegiar tudo o que é imediato e circunstancial e a desprezar tudo o que é permanente e essencial. Vemo-nos, cada vez mais, transformados em máquinas de produção e consumo e isso nos desumaniza e nos faz doentes. Estamos sempre extremamente ocupados, mergulhados numa dinâmica operacional de resolução de problemas e realização de tarefas, esquecendo de amar, de olhar, de contemplar o mundo, a vida, as pessoas que nos cercam”.

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