terça-feira, junho 6

O primeiro livro a gente nunca esquece

Muitos coletam textos curtos publicados em Facebook e em seus blogs, e de imediato começam a pensar em um primeiro livro. Caso não tenham desenvolvido um bom número de leitores e seguidores, e que esse número seja averiguável, além de alguma qualidade literária ou jornalística, como espécie de salvo-conduto para as primeiras vendas de lançamento, esses candidatos a autor logo descobrem que uma editora dificilmente investirá numa obra desse gênero, o que os leva a decidir-se pela autopublicação.

Mas o que definirá a vida do livro é também o seu gênero, e em muitos dos livros lançados como primeira publicação de um autor, a crônica é gênero dos mais comuns, e que tem os mais diferentes formatos, ou seja, crônicas de viagem, crônicas de política, crônicas de memória e também aquelas que muito se aproximam da ficção, onde uma historinha acaba configurando-se e servindo de escora para uma crônica de opinião do autor.

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“Girl Reading
Pierre-Auguste Renoir, 1885
”
Pierre-Auguste Renoir, 1885
Ainda toma-se erroneamente por crônica ao que se chama de artigo de opinião, e que não passa de um ensaio de ideias, e onde entram muitos de autoajuda e até religiosos, outros, porém, ao contarem pequenas histórias rápidas, em verdade estão a produzir o que pode ser encarado como um esquete, ou sketch, em inglês, que é um ensaio de uma cena ou um diálogo curto, sem necessariamente uma história de fundo a escorar, como no caso do conto, gênero que breve terá merecido espaço nessa nossa coluna de opinião.

Ao longo dos anos, e em especial no período dourado do jornalismo brasileiro, gente como Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, João Antonio, João Ubaldo Ribeiro, Luis Fernando Verissimo e tantos outros, não só nos desenharam o que seria a crônica brasileira, a ponto de se dizer que nossa crônica não encontra similar no mundo, como influenciaram gerações de bons autores que se iniciavam na literatura. E, dentre esses, não é difícil imaginar aqueles que também cometeram seus próprios crimes no primeiro livro.

Hoje, graças às facilidades de publicação e a novos ventos intelectuais, há certa tolerância com o primeiro passo e é aceitável que numa obra primeira cometamos erros, excessos, reduções e até imprecisões. Afinal o suporte livro é uma conquista e tanto e, creio, merece constar na vida de todos os que valorizam as ideias e a escrita como um instrumento de afirmação cultural e, porque não, social. Mas para se fazer carreira e prosseguir publicando, é preciso estudo e nos dedicarmos à muita, mas muita leitura. Há, junto desse esforço, que se procurar o mais acertado para nosso trabalho, seja com conversas com autores já experientes ou com o editor e consultor mais acessível para as dicas essenciais. Também é preciso atitude e autocrítica. E essa autocrítica só se constrói com o passar dos anos, o que, muitas vezes, faz pensar que um próximo livro precisa ser muito melhor do aquele primeiro, para que possamos seguir publicando e ganhando leitores.

Paulo Tedesco

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