quarta-feira, abril 26

A nostalgia de Hitler

Resultado de imagem para a nossa frágil condição humana
Se Adolf Hitler tivesse vivido entre os elefantes, até hoje ele estaria sendo lembrado. Mas ele viveu entre seres humanos — uma espécie que, aparentemente, tem memória curta. As notícias o demonstram: não só existe hoje na Europa uma quase total ignorância a respeito do nazismo, como a figura de Adolf está agora revestida de uma auréola mágica. “Adolf Hitler, Superstar” — diz uma revista europeia. Um Führer glamorizado reaparece agora em livros e filmes. As suásticas reaparecem. Há partidos neonazistas em várias partes do mundo. E na Argentina tivemos, até há pouco tempo, uma onda de antissemitismo de inspiração nitidamente nazi, para o qual o caso Gralver (o financista que girava com o dinheiro dos montoneros) serviu de estopim.

Será que o nazismo está voltando? — me perguntaram jovens estudantes a quem, faz umas semanas, dei uma palestra. Na realidade, o nazismo nunca desapareceu totalmente; sob disfarce, ele permanece vivo e atuante em várias partes do mundo. Onde quer que tenhamos a intolerância, a repressão, o racismo, o velho Adolf estará presente, em espírito. Na Rodésia, por exemplo, ele estaria bem à vontade. Nem por isso, contudo, devemos ficar paranoicos. O Terceiro Reich não foi um episódio isolado, uma espécie de praga que se abateu sobre a humanidade; foi um movimento com raízes socioeconômicas e psicológicas perfeitamente identificáveis. Foi, em resumo, a expressão do desespero de forças econômicas acuadas. Atualmente, a direita (da qual o nazismo é o expoente máximo) não parece tão desesperada assim.

Nem os povos estão despreparados. Os tempos são outros; mas isso não nos deve dar descanso. Ao contrário. Precisamos falar no assunto, discuti-lo tanto quanto possível. Os totalitários se refugiam
no silêncio e nas sombras. Mas enfim, já que a moda Hitler está aí, e já que muita gente está faturando em cima do assunto, aqui vão algumas sugestões a respeito de como aproveitar a popularidade de Hitler — especialmente na sociedade de consumo, capaz de comercializar
qualquer coisa.

Eis alguns lançamentos de sucesso garantido: 

— Fogões a gás Terceiro Reich: extremamente limpos, silenciosos e econômicos. Equipados com forno crematório. 

— Uma dança para entrar na moda: o rock de Adolf. Um passo adiante, vários para trás. Uma volta para a direita. Um discurso inflamado. Termina com o fuzilamento do parceiro.

— Reich-Ball: é um jogo semelhante ao futebol, só que jogado em campo de concentração, rodeado de cercas eletrificadas. Uma vantagem desse jogo é que as equipes estão permanentemente concentradas, o que lhes dá uma disciplina invejável. O jogo, apesar do nome, não tem bola. Consiste em empurrar os adversários para câmaras especiais onde eles… Bom, seria de mau gosto descrever, ganha o time que consegue ter maior número de sobreviventes.

— Manteiga Blitzkrieg: não existe. O Terceiro Reich prometia canhões em vez de manteiga, lembram? A caixa de manteiga Blitzkrieg contém canhõezinhos em miniatura para as crianças brincarem. É educativo e não aumenta o colesterol, como a manteiga comum.

— Clínicas Mengele: o dr. Mengele, que trabalhava com cobaias humanas (injetava corantes nos olhos de crianças para torná-los azuis), bem que poderia abrir uma rede de clínicas para o tratamento dos indesejáveis.

— “Solução final”: um coquetel explosivo, à base de ácido cianídrico e napalm. Pode ser uma interessante variante nas festinhas de embalo.

Macabro, tudo isso? Pode ser. Em matéria de mau gosto não se compara com as fotografias (autênticas) dos novos nazistas empunhando bandeiras com suásticas.

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