sábado, fevereiro 11

O segredo - nem tão secreto - para ler 200 livros por ano

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“by Francois Schuiten
”
Francois Schuiten
As práticas de leitura têm mudado drasticamente à medida em que as pessoas passam mais tempo online. A última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada pelo Instituto Pró-Livro, apontou que houve um aumento no número de leitores, mas o quadro ainda é preocupante: 44% dos entrevistados não haviam lido nenhum livro nos três meses anteriores à realização da pesquisa. Outros 30% nunca compraram um livro.

Em média, os brasileiros leem 4,96 livros por ano – sendo que 0,94 é indicado pela escola e 2,88 são lidos por vontade própria. Os pesquisadores perguntaram aos não-leitores – aqueles que não haviam lido nenhum livro nos três meses anteriores – quais eram os principais motivos do desinteresse pela leitura. A resposta campeã, com 32% dos entrevistados, foi a falta de tempo.

A falta de gosto (28%), falta de paciência (13%) e a preferência por outras atividades também preocupam. Mas vamos nos ocupar do motivo principal.

A melhor maneira para o desenvolvimento cognitivo, aprendizado, e até para ter uma melhor inteligência emocional é a boa e velha leitura. Não apenas especialistas recomendam a prática, como também profissionais bem sucedidos em suas áreas – podemos citar, seguramente, Bill Gates, Mark Zuckerberg, Barack Obama e Warren Buffett.

O último, a propósito, deu a seguinte dica para quem tem interesse em ser bem-sucedido: “Leia 500 páginas por dia. É assim que o conhecimento funciona. Ele é construído, como juros compostos. É tudo o que qualquer um pode fazer, mas garanto que poucos irão”.

Em um artigo publicado no site Better Humans, o autor Charles Chu revela que, nos últimos dois anos, conseguiu ler 400 livros de capa a capa. “A decisão de começar a ler foi uma das mais importantes da minha vida. Livros me deram coragem para viajar. Livros me deram a convicção para deixar meu trabalho. Livros me deram modelos, heróis e significados num mundo onde eu não tinha nada disso”, conta.

O segredo para ler essa quantidade prodigiosa de livros – ou ao menos uma quantidade significativa – se baseia apenas em um melhor gerenciamento do tempo. Ele aponta três passos para qualquer pessoa que queira ler mais.

1. Não desista antes de começar

A primeira reação de qualquer um quando confrontado com algo como “leia 500 páginas por dia” é inventar alguma desculpa. “Sou muito ocupado”, “não sou tão inteligente” ou “não gosto muito de livros” são algumas.

Como em qualquer outra ação, o primeiro passo é o mais decisivo. Mas, para conseguir chegar à meta de 200 livros por ano, não basta apenas o entusiasmo inicial.

2. Faça as contas

Um adulto consegue ler, em média, 200 a 400 palavras por minuto. Livros de não-ficção, que têm uma escrita mais fluida e direta, têm em torno de 50 mil palavras.

— 200 livros x 50 mil palavras/livro = 10 milhões de palavras
— 10 milhões de palavras/400 palavras por minuto = 25 mil minutos
— 25 mil minutos/60 minutos por hora = 417 horas

Para ler 200 livros, são necessárias 417 horas. Pode haver uma margem, a velocidade de leitura pode ser menor, mas é uma média razoável.

Para quem trabalha 40 horas ou mais por semana, ainda é um desafio conseguir tanto tempo. Mas não é impossível.

3. Encontre tempo

O brasileiro gasta 650 horas por ano em redes sociais. O tempo desperdiçado é 60% superior à média mundial. Os dados são da pesquisa Digital Future Focus Brazil 2015, da comScore.

Ainda não chegamos às maratonas de séries na Netflix ou aos programas de TV. Apenas nas horas gastas com os olhos colados no smartphone enquanto o polegar rola o feed de atualizações.

Portanto, não é exagero dizer que existe muita gordura para ser queimada nesse bife. Vale lembrar também que não são apenas os brasileiros: norte-americanos passam 608 horas nas redes sociais e 1642 horas em frente à TV – são 2250 horas perdidas por ano.

Se utilizadas para leitura, um adulto comum conseguiria ler mil livros por ano. Portanto, tempo não é uma desculpa aceitável. “Todos nós temos o tempo que precisamos. O assustador – a parte que todos ignoramos – é que estamos muito viciados, muito fracos e muito distraídos para fazermos o que é realmente importante”, aponta Chu.

A teoria é simples. Menos redes sociais, mais leitura. A prática, como sempre, é difícil.

4. Execução

Se você chegou até aqui, entende que a leitura é importante para seu desenvolvimento como profissional e como ser humano. Para dar uma utilidade a essa informação, é necessário saber o que fazer de agora em diante.

Use o ambiente

Viciados em cocaína que querem deixar o vício sabem que não podem ter drogas ao alcance dentro de casa. Com as redes sociais não é tão diferente, já que elas são criadas para viciar – fazer com que as pessoas passem a maior parte possível do seu tempo conectadas, consumindo publicidade.

O primeiro passo, portanto, é adequar o ambiente. Por exemplo, deixando livros em locais de fácil acesso e removendo todas as distrações do local. Isso inclui a tela inicial do smartphone. Sim, aqueles atalhos e notificações que chegam a cada minuto.

Construa hábitos

Um passo após o outro, um dia acompanhado do próximo. Não existem maneiras fáceis de desenvolver um hábito. Mas, como já antecipou Warren Buffett em relação à própria leitura, funciona como juros compostos: quanto mais acumula, mais obtém de retorno.

Chu recomenda o livro Superhuman by habit (sem edição em português), que contém dicas práticas para construir hábitos. No entanto, esse é um processo que pode durar meses ou anos e está sujeito a erros. Desistir, no entanto, só vai prejudicar. Porque, um dia, você vai querer retomar o hábito da leitura, e vai gastar energia para isso. Errando ou acertando, não pare.

Leia em várias plataformas


Ler mais não significa gastar fortunas com livros. Livros podem ser lidos em papel ou em telas de vidro. Podem ser lidos em parques, bibliotecas ou banheiros. Podem até ser ouvidos.

“Seja oportunista em relação à leitura. Se você tiver uma chance, agarre. Se não tiver, encontre uma”, recomenda Chu.

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