sábado, setembro 3

Assim começa o livro...

Tom estava no café de Georges e Marie com uma xícara quase cheia de café espresso na mão. Já tinha pago, e os dois maços de Marlboro para Héloïse se avolumavam no bolso do paletó. Em pé, assistia a um jogo numa máquina de fliperama. A tela mostrava um motociclista de desenho animado se arrojando em direção ao fundo, a ilusão de velocidade criada por uma cerca que vinha avançando dos dois lados da estrada. O jogador manipulava um meio volante, fazendo o motoqueiro ultrapassar um carro mais lento, ou saltar como um cavalo por cima de um muro que surgia de repente no meio da estrada. Se o motociclista (jogador) não saltasse a tempo, havia um impacto silencioso, aparecia uma estrela negra e dourada indicando uma colisão, o motoqueiro se acabava e o jogo também. Tom tinha assistido a esse jogo muitas vezes (era o mais popular do café), mas nunca tinha jogado. Por algum motivo, não queria. “Non-non!” De trás do balcão veio a voz cantada de Marie por cima da barulheira de costume, contestando a opinião de algum freguês, provavelmente política. Ela e seu marido eram convictos cidadãos de esquerda. “Écoutez: Mitterand...”


Passou pela cabeça de Tom que Georges e Marie não gostavam, porém, da imigração de africanos do Norte: “Eh, Marie, deux pastis!” Era o gordo Georges com um avental branco meio sujo, por cima da camisa e da calça, servindo as poucas mesas, onde os fregueses bebiam e ocasionalmente comiam batatas fritas e ovos cozidos. A juke-box tocava um velho cha-cha-chá. Uma silenciosa estrela negra e dourada! Os espectadores deram um gemido de solidariedade. Mono. Tudo acabado. A tela piscou sua mensagem silenciosa, obcecada, INSERIR MOEDAS INSERIR MOEDAS INSERIR MOEDAS, e o operário de jeans obedientemente remexeu num bolso, inseriu mais moedas e o jogo recomeçou, o motociclista em plena forma, chispando para o fundo, pronto para qualquer coisa, desviando-se com perícia de um barril que apareceu na pista, saltando suavemente a primeira barreira. O sujeito na direção estava atento, decidido a fazer seu homenzinho chegar até o final.

Tom pensou em Héloïse, na viagem dela para o Marrocos. Queria visitar Tânger, Casablanca, talvez Marrakesh. E Tom tinha concordado em ir com ela. Afinal, não era uma das expedições aventurosas que ela inventava, que exigiam tomar vacinas em hospitais antes de partir, e competia a ele, como seu marido, acompanhá-la em algumas de suas viagens. Héloïse tinha duas ou três inspirações por ano, e nem todas punha em prática. Tom não estava com vontade de tirar férias agora. Era início de agosto, o Marrocos estaria no auge do calor, e ele adorava suas próprias dálias e peônias nesta época do ano, tinha o maior prazer em cortar duas ou três flores frescas para a sala quase todos os dias. Gostava do seu jardim, e também gostava bastante de Henri, o faz-tudo, que o ajudava nas tarefas maiores, um gigante quando se tratava de força bruta, embora não o homem certo para outras tarefas.

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