quarta-feira, março 9

Tampinhas de PET 'pagam' livro em biblioteca pública

Na Biblioteca Pública do Itapoã, a moeda é uma tampinha de garrafa PET; a mercadoria é um livro; e o valor e o lucro são o conhecimento adquirido. Na região administrativa, a 25 quilômetros da Rodoviária do Plano Piloto, com 20 tampinhas é possível ganhar um livro. Estima-se que, em um mês, 500 obras foram negociadas pelo sistema de barganha. Quanto mais pessoas buscam por exemplares, mais se deseja fornecer.

O escambo literário começou com a união de dois projetos: Tampa Mania (doações de tampas) e Livro por Livro (troca de um livro por outro). Ambos foram idealizados pelas funcionárias da administração regional que comandam o acervo e o público, Rozângela Rodrigues da Silva, de 49 anos, e Lilia Valéria Correa, de 40 anos. "O que a gente mais quer é ver isso aqui cheio", afirma Rozângela ao apontar para as cadeiras de estudo.

As duas começaram a exercer a função de bibliotecária no segundo semestre do ano passado e sem terem experiência no ramo. Foi da simples vontade de que o espaço servisse como um ambiente de socialização para as crianças e os adolescentes da região. "O Itapoã é uma área de vulnerabilidade, temos que estar atentos com as crianças nas ruas", justifica Lilia.

Essa é uma das principais preocupações dela. A funcionária conta que é ex-presidiária e até 2008 esteve na Colmeia (prisão feminina do Distrito Federal). Hoje, estuda direito em uma faculdade particular de Brasília e sonha ser promotora.

Segundo Lilia, o objetivo de incentivar a leitura é reduzir a possibilidade de influências negativas para as crianças do local. Ela explica que a barganha não é com os exemplares do acervo, mas com volumes doados à biblioteca com essa finalidade.

Além da troca, as funcionárias também desenvolvem oficinas de reciclagem com as crianças. São brinquedos e enfeites construídos com CDs, garrafas PET e outros produtos reutilizados. "Qualquer criança pode participar. É só ter idade para usar a tesoura", brinca Rozângela. Com as ações, a biblioteca passou a receber por volta de 30 frequentadores diariamente, inclusive de familiares e de estudantes para concursos. Antes, a média era de cinco em um dia.

Os trabalhos desenvolvidos no local ainda são novidade na região administrativa, onde 68,96% da população não estudam e 44,3% têm ensino fundamental incompleto. Os dados são da última Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios do Itapoã divulgada em 2014, pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal. Os índices reforçam o desafio da administração para estimular o hábito de ler, e as ações têm apresentado resultados positivos. "Isso era morto aqui. Tinha até apostila de 1990 para o exame da Ordem dos Advogados do Brasil", compara Lilia.

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