segunda-feira, fevereiro 8

Você ao lado que não me vê

Respeito o seu silêncio, seu olhar vidrado no seu aparelho, como numa hipnose mágica. Confesso que queria uma prosa, uma conversa à toa, apenas estabelecer um contato. Saiba que nascemos para nos espelhar, aprender com o outro, estabelecer comunicação, criar comunhão.
Cada um de nós é um universo com leis e encantos próprios, mistérios, dons muitas vezes não percebidos. 

Você que está ao meu lado e não me vê, não me escuta, não me nota. Tenho muito a te dizer, histórias maravilhosas para contar, mesmo que algumas delas possam te parecer exageradas. 

Permito até que escolha o tema. Afinal, meus casos têm enredos que vão do mais trágico ao mais cômico, perpassando por outros românticos, cheios de suspense ou drama. 

Sim, todos nós somos um grande enredo, que daria ótimas novelas ou filmes. Mas que pena que estamos cada vez mais sozinhos, sem tempo, indiferentes ao sofrimento e à carência afetiva que assolam os nossos dias.

Ouvir

Queria muito te ouvir, compartilhar suas emoções, ser solidário nas suas angústias, acolher no seu sofrimento, vibrar com suas conquistas. Te passar, generosamente, a sabedoria que mais de meio século me contemplaram, contar rindo de mim mesmo, dos meus fracassos, de erros bobos ou imaturos que cometi na vida, da mesma forma que corro o risco de falar inspirado de grandes feitos e conquistas.

Olhar

Mas precisamos nos olhar, desconectar de todas as coisas às quais nos viciamos, em conteúdos tão estressantes. Estamos lado a lado, e só isso já traz uma energia e um mundo de possibilidades.
Sei, e nisso não sou ingênuo, que estando bem ao seu lado concorro com o WhatsApp, o Facebook, com games e não sei o mais o quê que está à sua frente, te seduzindo e te sugando.

Desleal?

Concorrência desleal? Não. Me sinto capaz de ter um conteúdo atraente, diversificado aqui ao seu lado, disposto a esperar que a bateria descarregue. Seres humanos têm cinco antenas parabólicas para captar e tomar consciência de sua existência: os órgãos do sentido. A riqueza, a verdadeira riqueza, é ampliar cada vez mais tudo aquilo que vejo, ouço, degusto, cheiro ou tateio, deixando que o universo que me envolve penetre em mim despertando sensações que ampliarão minha experiência de vida.

Quanto à tela, que não cheira, não tem gosto nem acaricia, ela te limita ou ilude com imagens ou sons. Sim, eu sei a importância e o impacto da vida cibernética. Não quero excluí-la. Apenas quero me incluir na sua vida.

Destino

E você ao meu lado, meu filho, ou um amigo, companheiro de viagem, um desconhecido, uma mulher que possa me encantar ou vice-versa, apenas peço que olhe para o lado de vez em quando. Quem sabe a riqueza que o “outro” pode ter na sua vida e você nem tinha notado? O destino é feito pelas oportunidades e detalhes que vivem mais perto do que pensamos. Experimente olhar ao redor. No mínimo, você terá grandes surpresas, e de quem menos se espera!

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