terça-feira, janeiro 5

Em defesa das livrarias

Livraria independente em Nova Iorque

"Sempre que se fecha um bar, estão perdidas para sempre centenas de canções. " Assim começou o famoso vídeo que lançou a Coca-Cola Espanha em 2014. A peça apelava às emoções e foi projetada para ser viral. Naquele ano, pela primeira vez durante a crise, mais bares foram abertos. Por que não há uma iniciativa semelhante promovida por Planeta, RBA ou Pinguim Random House? Por que a indústria do livro não optou por uma defesa das livrarias como "templos emocionais" dos leitores? Amazon ainda não dá números de vendas. Neles, suponho, é uma das razões pelas quais não houve a campanha "livrarias abençoadas".

Outras podem ser encontradas na Supervendas, Anita Elberse, com estatísticas que mostram que na era da Internet ainda é mais lucrativo para os grandes produtores de conteúdo apostarem em produtos de venda que muitos de nicho. Em outras palavras, é mais barato investir um milhão de euros em um único romance de Carlos Ruiz Zafon do que em 500 de muitos autores. A professora de Harvard analisa casos tão diversas como Lady Gaga ou caso o Real Madrid, cujo modelo galático é inspirado pela Disney. Segundo Elberrse, a partir da perspectiva de um mercado global, fãs reúnem-se no estádio Santiago Bernabeu como extras são essenciais, pois sem eles o conteúdo que produzem iria perder muito interesse e rentabilidade. Diria que algo semelhante acontece com a maioria dos principais títulos: eles não vão dar muito dinheiro, mas garantem uma visibilidade contínua nas livrarias, plataformas on-line e mídia. Para a Coca-Cola, cada garrafa ou lata pode ter o mesmo valor. Para grandes editoras, há duas categorias de livros: os extras, que são legião, e um seleto grupo de atores e atrizes protagonistas.

Dos 46 produtos que são anunciados na página principal do Amazonas, apenas seis são livros. São os primeiros e mais visíveis. Paradoxalmente, numa época em que supostamente livrarias não inspiram consumo de massa, o mais poderoso supermercado virtual do mundo se apropria do prestígio livresco. Não só isso, abriu em novembro uma livraria física em Seattle e expõe 6 mil títulos do seu catálogo (qualquer livraria de médio porte tem entre 20 mil e 30 mil títulos em exibição). Este gesto torna-se imediatamente uma notícia global que nos faz esquecer, por exemplo, a Internet Bookshop Italia, que tem quase 20 anos no mercado on-line, tornou-se 2012 em uma rede de livrarias com locais em todo o país, algumas tão espetaculares como a da Via Nazionale, em Roma. Se divulga incansavelmente a expansão da Amazon enquanto insistem na extinção das livrarias.

Leia mais o artigo de Jorge Carrion
Street trader: Man selling old booksMas os velhos livreiros nunca morrem. São muitos os que se destacam. Há que revindicar essa figura, que permaneceu nas sombras, enquanto as do autor, editor e agente tornaram-se plenamente visíveis, mesmo estelares. Na memória desses livreiros se conserva um patrimônio que raramente pode ser descoberto nas paredes de suas livrarias ou em seus sites.

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