quarta-feira, março 25

Um cronista: um poeta para todos

“As gerações mais novas talvez ignorem ou não conheçam como deveriam a poesia de Paulo Mendes Campos”
Ivan Junqueira
Antes de ser um dos mais influentes cronistas da Literatura brasileira, Paulo Mendes Campos foi um poeta – e dos mais significativos do século XX, mesmo sendo contemporâneo de Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Drummond e João Cabral. Entrar mais na poesia publicada pelo autor é também entender melhor seus textos em prosa. Eis uma das grandes importâncias desse novo livro “Melhores Poemas Paulo Mendes Campos” (Global Editora, 352 páginas, R$ 35), com seleção do escritor e jornalista Humberto Werneck. Uma obra que é para se corrigir eventual injustiça histórica, que confinou o autor a uma geração, a de 45, como se sua produção poética não pudesse ressoar até os dias de hoje.

Na apresentação do livro, Werneck lembra que até mesmo algumas das crônicas do autor mais elogiadas pela crítica são na verdade poemas em prosa, como o célebre "O amor acaba", ou "Pequenas ternuras" – por isso foram incluídas nesse volume. A seleção traz o que há de mais representativo em toda a produção poética de Paulo Mendes Campos, nos livros que publicou desde o primeiro, 'A palavra escrita', de 1951, passando por Domingo azul do mar, Testamento do Brasil, Balada de amor perfeito, Arquitetura até Trinca de copas (o último, de 1984).

Os textos têm, ao mesmo tempo, muitas referências culturais e uma aproximação lírica e também irônica da vida cotidiana que viria a marcar sua crônica. Por exemplo, o poema “Declaração de males”:

Ilmo. Sr. do Imposto de Renda:antes de tudo devo declarar que já estou (parceladamente) à venda.Não sou rico nem pobre, como o Brasil, que também precisa de boa parte do meu dinheirinho.Pago imposto de renda na fonte e no pelourinho.(...)
Destacam-se também as traduções de Paulo Mendes Campos de autores como T.S. Eliot, J.L. Borges, E.E. Cummings, Emily Dickinson, Pablo Neruda e William Blake. O poema de Cummings, por exemplo, é o mesmo que faz parte da trama do filme “Hannah e suas irmãs”, de Woody Allen.

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