terça-feira, janeiro 13

O asséptico cheiro dos livros



Ah, o cheiro de livros velhos! Alguns cientistas britânicos isolaram ao menos 15 dos elementos mais voláteis entre 100 provenientes dos livros velhos e cujo mix varia substancialmente, embora o componente mais consistente é uma pitada de sabor baunilha produzida pela lignina. O cheiro é um dos argumentos dos que defendem o livro de papel contra o plástico asséptico sem alma dos livros digitais. É importante no livro e também na literatura: a partir do miasma negro que se espalhou do canto de sua Bovary ao requintado aroma perfumado das flores que consegue captar Jean-Baptiste Grenouille em “Perfume” (Patrick Suskind).

Os odores do livro e da literatura podem ser consultados no inteligente livro de Rindisbachen Hans J. (1993, University of Michigan), cujo título diz tudo: “O cheiro dos livros: um estudo histórico-cultural de percepção olfativa na literatura”. Quanto aos argumentos contra o ebook, vamos encontrá-los em toda parte.

Também no tardio século XV iria surgir nos livros impressos com o cheiro pungente de tinta. Ou talvez os que eram muito cautelosos achavam que um livro pode estar em "nas mãos de pessoas muito diferentes ao mesmo tempo", para usar a expressão maravilhosa empregada por William Caxton, com a impressão de “Os Contos de Canterbury” (1476), o primeiro trabalho impresso na Inglaterra.

A última coisa que encontrei para reforçar os argumentos dos defensores do livro de papel é o resultado de um estudo do Hospital Brigham and Women de Boston, realizada por duas semanas em mais de uma dúzia de temas, em que a leitura antes de dormir livros de papel descansa melhor do que a leitura em tablet. Aparentemente, e de acordo com o estudo, as telas de "luz azul" impedem a secreção de melatonina, afetando o relógio biológico.

A única falha é que os sujeitos experimentais foram obrigados a ler pelo menos quatro horas antes de desligar a luz. Então presumo que muitas pessoas ainda preferem assistir a tão grande ingestão moderada de hipnóticos e ansiolíticos.

Manuel Rodríguez Rivero (tradução de artigo publicado em El País

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