terça-feira, setembro 30

Viagem no tempo

Uma livraria na Dinamarca, em 1899 

Biblioteca verde


Papai, me compra a Biblioteca Internacional de Obras Célebres.
São só 24 volumes encadernados
em percalina verde.
Meu filho, é livro demais para uma criança.
Compra assim mesmo, pai, eu cresço logo.
Quando crescer eu compro. Agora não.
Papai, me compra agora. É em percalina verde,
só 24 volumes. Compra, compra, compra.
Fica quieto, menino, eu vou comprar.
Rio de Janeiro? Aqui é o Coronel.
Me mande urgente sua Biblioteca
bem acondicionada, não quero defeito.
Se vier com um arranhão recuso, já sabe:
quero devolução de meu dinheiro.
Está bem, Coronel, ordens são ordens.
Segue a Biblioteca pelo trem-de-ferro,
fino caixote de alumínio e pinho.
Termina o ramal, o burro de carga
vai levando tamanho universo.
Chega cheirando a papel novo, mata
de pinheiros toda verde. Sou
o mais rico menino destas redondezas.
(Orgulho, não; inveja de mim mesmo.)
Ninguém mais aqui possui a coleção
das Obras Célebres. Tenho de ler tudo.
Antes de ler, que bom passar a mão
no som da percalina, esse cristal
de fluida transparência: verde, verde.
Amanhã começo a ler. Agora não.
Agora quero ver figuras. Todas.
Templo de Tebas. Osíris, Medusa,
Apolo nu, Vênus nua… Nossa
Senhora, tem disso nos livros?
Depressa, as letras. Careço ler tudo.
A mãe se queixa: Não dorme este menino.
O irmão reclama: Apaga a luz, cretino!
Esparmacete cai na cama, queima
a perna, o sono. Olha que eu tomo e rasgo
essa Biblioteca antes que pegue fogo
na casa. Vai dormir, menino, antes que eu perca
a paciência e te dê uma sova. Dorme,
filhinho meu, tão doido, tão fraquinho.
Mas leio, leio. Em filosofias
tropeço e caio, cavalgo de novo
meu verde livro, em cavalarias
me perco, medievo; em contos, poemas
me vejo viver. Como te devoro,
verde pastagem. Ou antes carruagem
de fugir de mim e me trazer de volta
à casa a qualquer hora num fechar de páginas?
Tudo que sei é ela que me ensina.
O que saberei, o que não saberei nunca,
está na Biblioteca em verde murmúrio
de flauta-percalina eternamente.

Carlos Drummond de Andrade

Cuide dos livros


O projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos editou há anos o "Manual de pequenos reparos em livros", de Robert J. M ilevsky. Uma boa dica para quem deseja consertar aquele volume que parece não ter jeito.
O manual pode ser encontrado aqui

segunda-feira, setembro 29

Todo lugar é lugar de leitura

Gabriel Pacheco

Assim começa o livro...

O velho chamava-se Santiago. Dia após dia, tripulando sua pequena canoa, ia pescar no Gulf Stream. Mas nos últimos oitenta e quatro dias não apanhara um sóp peixe. Nos primeiros quarenta levara em sua companhia um rapazinho, para auxiliá-lo. Depois disso, os pais do rapaz, convencidos de que o velho se tornara salao, isto é, azarento da pior espécie, resolveram que o filho fosse trabalhar noutro barco, que trouxera três bons peixes apenas em suma semana. O rapaz ficava triste ao ver o velho regressar todos os dias com a canoa vazia e ia sempre ajuda-lo a carregar os rolos de linha, ou o gancho e o arpão, ou ainda a vela que estava enrolada à volta do mastro. A vela fora remendada em vários pontos com velhos sacos de farinha e, assim enrolada, parecia a bandeira de uma derrota permanente.

As missões da biblioteca pública


Criar e fortalecer os hábitos de leitura desde a primeira infância

Apoiar a educação individual, o autodidatismo e a educação formal em todos os níveis

3 Propiciar à população meios para sua evolução criativa

Estimular a imaginação e a criatividade de crianças e jovens

5 Promover o conhecimento da herança cultural e o apreço pelas artes, realizações e inovações científicas

Facilitar o acesso a todas as formas de expressão cultural e de artes

7 Fomentar o diálogo e a diversidade cultural

Apoiar a tradição oral

Assegurar o acesso às diferentes informações da comunidade local

10 Proporcionar serviços de informação adequados às empresas, associações e grupos de interesse

11 Promover o desenvolvimento da capacidade de utilizar a informação e a informática

12 Apoiar, participar e, se necessário, criar programas e atividades de alfabetização para diferentes grupos etários
(Fonte: Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias)

domingo, setembro 28

Travessia

"Uma existência com livros será sempre uma travessia menos solitária."
Pereira Coutinho 

Viagem ao Rio de Machado


Bentinho e Capitu, personagens do romance “Dom Casmurro” (1899), foram moradores da rua Riachuelo, na Lapa. Já em “Memórias póstumas de Brás Cubas”(1881), o narrador reencontra uma antiga paixão ao caminhar pela rua do Ouvidor, no centro da cidade. As referências à cidade que pontuam a ficção de Machado de Assis (1839-1908) motivaram o projeto Rio de Machado, que lista 81 endereços citados nos livros do autor, além de 20 locais associados à rotina do escritor. Idealizadoras do projeto, a curadora Daniela Name e a consultora digital Gabriela Dias reuniram, em um aplicativo, um mapa no qual cada local aparece contextualizado em relação à vida e à obra do escritor. O programa estará disponível para download gratuito em tablets e celulares a partir de 1º de outubro. 

Faxina tem encantos


Limpar estantes é se desfazer de velhas preferências. Aquele autor que tanto encantou na juventude já não tem o mesmo sabor com o passar dos anos. Livro, como o vinho, precisa da decantação das estantes. O tempo deixa marcas no leitor que nem todo livro encantado de ontem pode agradar hoje. A estante fica mais limpa com o tempo. Mais vazia, menos pesada, no entanto, mais arejada e mais selecionada. Encanta o leitor que passa a conviver com os verdadeiros amigos que escolheu para todo o resto da vida.

sábado, setembro 27

Bibliotecas inusitadas

Biblioteca de praia na Bélgica

Um livro, um filme

O filme é baseado na novela homônima “Um violinista no telhado”, de Sholem Aleichem, (1859-1916), escritor ídiche nascido no território hoje pertencente à Ucrânia. A história se passa na Rússia czarista, em 1905 e gira em torno do leiteiro Tevye, pai de cinco filhas, e suas tentativas de manter sua família e suas tradições religiosas

10 motivos para ler todo dia


Andreas Nossman

1. Estímulo mental
O cérebro necessita treinamento para se manter forte e saudável e a leitura é uma ótima maneira de estimular a mente e mantê-la ativa. Além disso, estudos mostram que os estímulos mentais desaceleram o progresso de doenças como demência e Alzheimer.

2. Redução do estresse
Quando você se insere em uma nova história diferente da sua, os níveis de estresse que você viveu no dia são diminuídos radicalmente. Uma história bem escrita pode transportá-lo para uma nova realidade, o que vai distraí-lo dos problemas do momento.

3. Aumento do conhecimento
Tudo o que você lê é enviado para o seu cérebro com uma etiqueta de “novas informações”. Mesmo que elas não pareçam tão essenciais para você agora, em algum momento elas podem ajudá-lo, como em uma entrevista de emprego ou mesmo durante um debate em sala de aula.

4. Expansão de vocabulário
A leitura expõe você a novas palavras que inevitavelmente elas serão incluídas no seu vocabulário. Conhecer um número grande de palavras é importante porque permite que você seja mais articulado em seus discursos, de maneira que até mesmo a sua confiança será impulsionada.

5. Desenvolvimento da memória
Quando você lê um livro (especialmente os grandes) precisa se lembrar de todos os personagens, seus pontos de vista, o contexto em que cada um está inserido e todos os desvios que a história sofreu. A boa notícia é que você pode utilizar isso a seu favor, fazendo dos livros um treino para a sua memória. Guardar essa quantidade de informações faz com que você esteja mais apto para se lembrar de eventos cotidianos.

6. Habilidade de pensamento crítico
Já leu um livro que prometia um mistério confuso e acabou por desvendá-lo antes mesmo do meio da história? Isso mostra a sua agilidade de pensamento e suas habilidades de pensamento crítico. Esse tipo de talento também é desenvolvido por meio da leitura. Portanto, quanto mais você lê, mais aumenta sua habilidade de estabelecer conexões.

7. Aumento de foco e concentração
O mundo agitado de hoje faz com que sua atenção seja dividida em várias partes, de modo que manter-se concentrado em apenas uma tarefa torna-se um desafio. Contudo, livros com histórias envolventes são capazes de desligar você do mundo ao redor, fazendo com que sua atenção esteja inteiramente voltada para o que acontece na trama. Embora você não perceba, esse tipo de exercício ajuda você a se concentrar em outras ocasiões, como quando precisa finalizar um projeto urgente.

8. Habilidades de escrita
Esse tipo de habilidade anda lado a lado com a expansão do seu vocabulário. Assim como a leitura permite a você ser alguém mais articulado na fala, também vai ajuda-lo a colocar com mais clareza os seus pensamentos no papel. Isso vai dar a você a chance de produzir textos com mais qualidade, não apenas de vocabulário, como também correção gramatical e ideias mais ricas.

9. Tranquilidade
O fato de envolver você em uma história e livrá-lo do estresse cotidiano faz do livro uma ótima ferramenta para alcançar a paz interior. Nos momentos de estresse, procure se distrair do que acontece com uma história que atrai seu interesse. Isso vai acalmá-lo e ajudá-lo a melhorar seu humor.

10. Entretenimento a baixo custo
Muitas pessoas acreditam que o conceito de diversão está diretamente ligado aos altos custos de uma viagem ou mesmo de uma festa. Contudo, se você encontrar um livro que chame a sua atenção, poderá viajar sem sair da sua casa.

(Fonte: Universia Brasil) 

 


sexta-feira, setembro 26

Chá diário de leitura


Librería de viejo


Amantes que se cogen de las manos en novelas nunca abiertas.
La página con la receta de la sopa de calabaza se ha perdido.
Un hombre escribe sobre su feliz infancia en una granja,
de cuando montaba en globo sobre el lago Erie.
Un aire repentino cierra su libro sobre mi mano
mientras un filósofo pregunta cómo es posible
sostener la doctrina teológica ortodoxa
del eterno sufrimiento de los condenados.
Veamos. Quizás haya arena entre las páginas
de la guía de viajes a Egipto o incluso una pulga muerta,
la que una vez mordió el trasero de la misteriosa Abigail
que garabateó en broma su nombre con un lápiz de ojos.
Charles Simic


*Dušan "Charles" Simić (1938), poeta sérvio-americano, co-editor de poesia da Paris Review e vencedor do Pulitzer de Poesia, em 1990. O poema acima foi publicado em “Mi séquito silencioso”, recém lançado na Espanha 

Cai a venda em Portugal



Há menos editoras, menos livrarias e vendem-se menos livros em Portugal. Estas são as principais conclusões de um estudo encomendado pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) ao ISCTE-IUL, depois de no ano passado várias livrarias independentes terem acusado redes livreiras como a FNAC e a Bertrand de violarem a lei do preço fixo do livro. As conclusões não são propriamente uma novidade mas para o presidente da APEL vêm dar força à necessidade de uma mudança no mercado livreiro, que precisa de ser dinamizado. Em 2004 existiam 694 livrarias e o volume de negócios destas era de 140,1 milhões de euros. Em 2012, já só se registavam 562 livrarias com um volume de negócio de 126,2 milhões de euros.

quinta-feira, setembro 25

Os imortais


"Os espíritos imortais dos mortos falam nas bibliotecas" 
Plínio, o moço

Expo de Bíblias sefardis


 “Palavra por palavra” é a exposição de 70 Bíblias sefardis e 20 livros com textos bíblicos traduzidos para o ladino, língua semelhante ao castelhano falada por comunidades judaicas ibéricas. A mostra, no Círculo de Bellas Artes de Madri vai até outubro com a curadoria de Uriel Macías, que durante 25 anos reunião a coleção, que é uma homenagem à memória das gerações de judeus sefardis e do ladino, “a língua com que viviam” e mantiveram por muitos anos depois da expulsão da Espanha em 1492.

Os livros reunidos foram publicados entre 1553 e 1946 com exemplares impressos em Amsterdam, Constantinopla, Esmirna, Ferrar, Jerusalém, Liorna, Londres, Pisa, Salônica, Veneza e Viena.

Leitura para todos


Piratininga, no interior paulista, foi esta semana o 17º município beneficiado pelo Projeto Bibliotecas – Leitura para Todos, promovido pela indústria gráfica paulista, representada pelo Sindicato das Indústrias Gráficas no Estado de São Paulo (Sindigraf-SP), em conjunto com a Associação Brasileira da Indústria Gráfica – Regional São Paulo (Abigraf-SP). 

O projeto inspira-se nas recomendações da Unesco que atribuem às bibliotecas públicas 12 missões relacionadas à  informação, alfabetização, educação e cultura. “O Brasil é muito carente em bibliotecas. O Censo Escolar 2013 aponta que, em São Paulo, apenas 12,4% das escolas públicas possuem esse equipamento. Dá para imaginar que a carência seja ainda maior em outros estados, o que situa o País muito aquém da meta de equipar todos os estabelecimentos de ensino com bibliotecas até 2020”, afirma Fabio Arruda Mortara, presidente do Sindigraf-SP.

Desde sua criação, em 2005, o Projeto Bibliotecas criou ou revitalizou 17 espaços públicos de leitura em pequenos municípios, beneficiando quase 800 mil pessoas e doando 18 mil livros. 

quarta-feira, setembro 24

Quem não pratica o 'tsundoku'?

O substantivo japonês Tsundoku significa "Deixar um livro sem ler numa pilha de livros não lidos". O termo faz parte de uma série de palavras intraduzíveis para o inglês ilustradas por Ella Frances Sanders 

Publicado inédito de Sramago

O romance inacabado de José Saramago, morto em 2010, "Alabardas, alabardas, Espingardas, espingardas", chega às livrarias portuguesas lançado pela Porto Editora. Em julho, a presidente da Fundação José Saramago, Pilar del Río, mulher do escritor, anunciou na revista Blimunda a publicação da obra, que representava "uma forma de repúdio à violência". "São poucos capítulos, incluindo notas que o autor fez quando o começou a escrever, mas o tema fica claro, o texto tem unidade", explicou Pilar Del Río. Com título inspirado em versos de Gil Vicente, o livro tem como protagonista o funcionário de uma fábrica de armas que vive um conflito moral decorrente de seu trabalho. 

Contra as traças


"A verdade é que vendemos livros antigos e alguns, raramente, mas acontece, trazem bicho. O que podemos fazer... Bem, profissionais como somos, não deixámos de dar resposta à cliente. Assim, aqui vai para quem quiser saber, a receita para nos vermos livres dos bibliófilos bichos e, ao contrário do que se possa pensar, não é com nenhum produto químico (existem vários), mas sim de uma forma muito natural: pega-se no livro, embrulha-se muito bem em plástico e coloca-se no congelador de um dia para o outro. Simples, mas eficaz. E sim, estamos mesmo a falar a sério". 
Um conselho de Pó dos Livros

Mão de Ferro

A trilogia Coração de pedra, de Charlie Fletcher, lançada pela Geração Editorial conta a história de um casal de crianças, George e Edie, que se envolve em aventuras fabulosas numa Londres de pesadelo depois que, acidentalmente, George quebra a escultura de um dragão em frente a um Museu de História Natural. O ato faz com que  a escultura de um pterodáctilo assuma vida e passe a perseguir vingativamente George, seguido por Edie, mas eles são auxiliados pela estátua de um soldado  da Primeira Guerra Mundial, o Artilheiro, que será aliado deles em muitas aventuras.

Essas aventuras só têm de realista o cenário de fundo — a Londres típica dos filmes de terror, com seus fogs, ares marrons e acinzentados, e seus monumentos públicos, bem como gárgulas e outras estátuas monstruosas que, assumindo vida, ganharão contornos aterradores na vida do casal de crianças, obrigando-os a lutar pela sobrevivência de modo desesperado. A magia se faz reinar, pois tanto George quanto Edie possuem poderes mágicos que estão na mira dos monstros e sofrem a perseguição do Caminhante.


O livro “Mão de ferro” é a segunda parte da trilogia, precedido por uma explicação dos acontecimentos anteriores para os leitores que chegam agora. A história mostra George e Edie como personalidades mais complexas e verdadeiras, envolvidas nestes episódios num turbilhão sem fim de perseguições, com a adrenalina a toda em uma narrativa em que há movimentação incessante e batalhas após batalhas. Retornam os Cuspidos, estátuas de pessoas, e os Estigmas, estátuas de criaturas. Edie, que é uma Fagulha, com poderes para viver eventos do passado gravados na pedra por ela, é sequestrada por Ícaro, e George e o Caminhante partem para resgatá-la, mas se separam no caminho, e George ainda se depara com três desafios para que não se converta num Servo da Pedra. George, além disso, precisa reparar seus erros, e tomando consciência mais precisa de seus poderes como Fazedor, deverá perceber no que isso poderá ajudar sua amiga Edie. A Marca do Fazedor, de que ele é portador, lhe confere o dom de esculpir em pedra ou metal. Neste volume, surgem novas estátuas, algumas amigáveis outras não, como Ícaro, irmão do Minotauro, a Rainha, o Oficial e também o temível Touro Matador.

terça-feira, setembro 23

Imagem do Dia


No trono do lavabo



“Viciei-me em ler de lápis na mão, para sublinhar, anotar. Transponho observações ou citações para um caderno escolar, que consulto em caso de necessidade. Dizem que tenho boa memória; de fato, não é má, apoiada em leituras reflexivas. Leio em pé, desde que escorado a um balcão. Leio deitado, sobre travesseiros. Poderia ler em qualquer enxerga, até mesmo na cadeia, se a cela fosse individual. Mas leio, de preferência, sentado a uma mesa ou carteira, com o livro pousado e espaço ao redor. Invejo quem consegue ler em ônibus ou avião. Eu não leio nem durmo, ficou com os sentidos alertas, sintonizado em ruídos suspeitos e engasgos nas turbinas.
(...)
Há um ótimo lugar para ler: os cochos de fermentar cacau. Entre num deles, nas entressafras, quando estão ainda mais desativados, escolha o canto, de preferência com a cabeça para o norte, e esqueça por algumas horas as mazelas do mundo. Nos cochos em desuso resta sempre um odor de cacau – perfume embriagador. Há quem embale a imaginação lendo em rede do Ceará ou sentado no trono do lavabo. Tive um amigo que leu assim todo o “Vinhas da ira”. O romance de Steinbeck interessou-o a ponto de acelerar-lhe o relógio intestinal.

"Se todo mundo lesse, não haveria tempo para o tédio"

Hélio Pólvora, "No trono do lavabo"




Hélio Pólvora

Livro não lido


O livro que não leste permanece
ali, fechado – barco vazio, fantasma
da ilusória realidade ancorado à beira
do precipício entre sonho e vigília,
palácio de ar adornado por dentro
com flores negras letras sobre o sujo
dourado do pensamento – caixa de
pandora repleta de esperanças perdidas,
reino sem rei onde estão adormecidas
solidões, tragédias, corações de cristal,
rostos embrutecidos, anseios, seios
nas mãos que procuram sugar o leite
do destino nulo a cada fim de jornada,
que se desenrola em vão como a escrita
sobre este papiro de areia, mudo
papel que um ator bêbado diz para
uma platéia de cegos, surdos e ausentes
O livro que não leste permanece ali
calado, câmara escura à espera
de tua sempre lâmpada ardente

Antonio Moura

segunda-feira, setembro 22

Imagem do Dia


Parra, o centenário


"Advertência ao leitor", na voz do poeta

Todos no Chile estão homenageando os 100 anos desse que é um poeta nacional. Nicanor Parra Sandoval ainda conduz seu próprio Fusquinha. Detesta o saudosismo ou a melancolia, que vê como a pior das pestes. À espera da fofoca ou do relato fantasioso mais recente, visitá-lo é um exercício intelectual de alto risco que pode deixar a pessoa mais jovem esgotada. Obcecado há meses pela cueca (dança nacional chilena) com piano, a coluna de opinião como forma de poesia ou a linguagem dos manobristas de carros, o professor de física Parra converte seu interlocutor em outro experimento desse laboratório espartano em que se converteu sua casa de Las Cruces, situada entre o túmulo de Vicente Huidobro, em Cartagena, e a casa de Pablo Neruda em Isla Negra.

Entre a série de comemorações está o lançamento de “Temporal”, livro inédito do qual até o próprio Parra havia se esquecido. Trata-se de uma crônica do transbordamento do rio Mapocho no inverno de 1987 e, ao mesmo tempo, de uma denúncia da ditadura, uma tentativa de voltar a pensar a poesia política longe da propaganda ou da denúncia, conseguindo que nela confluam as vozes de vítimas, transeuntes, jornalistas e autoridades. 

Um livro, um filme



Romance do escritor britânico Richard Llewellyn, “Como era verde o meu vale”, foi publicado em 1939 e contava a história de uma família de mineiros do País de Gales no princípio do século XX. O livro foi transformado em filme em 1941, sob a direção de John Ford, premiado com o Oscar de 1942.

domingo, setembro 21

Velha biblioteca móvel


Assim começa o livro

Eu fui um menino cor de terra. Não vou, porém, saber nunca de onde vieram os verdadeiros avós dos avós dos meus avós. Nisso, nós, os meninos brasileiros, somos diferentes dos meninos morenos da Guatemala, do México, da América Central ou de todo o planalto andino, Quando o homem branco chegou na minha terra, encontrou meninos com a carinha igual a de todos os meninos que viviam nas florestas úmidas da América ou nas altas montanhas dos Andes. Depois, eles trouxeram os negros da África, que não queriam vir. E vieram também os árabes e outras gentes da Ásia. E todos se misturaram, sem registro e sem cartório.

E, aqui, ficamos todos da cor da nossa terra e viramos, todos, os brasileiros.

Livros





Tropeçavas nos astros desastrada 
Quase não tínhamos livros em casa 
E a cidade não tinha livraria 
Mas os livros que em nossa vida entraram 
São como a radiação de um corpo negro 
Apontando pra a expansão do Universo 
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso 
(E, sem dúvida, sobretudo o verso) 
É o que pode lançar mundos no mundo.

Tropeçavas nos astros desastrada 
Sem saber que a ventura e a desventura 
Dessa estrada que vai do nada ao nada 
São livros e o luar contra a cultura.

Os livros são objetos transcendentes 
Mas podemos amá-los do amor táctil 
Que votamos aos maços de cigarro 
Domá-los, cultivá-los em aquários, 
Em estantes, gaiolas, em fogueiras 
Ou lançá-los pra fora das janelas 
(Talvez isso nos livre de lançarmo-nos) 
Ou ­ o que é muito pior ­ por odiarmo-los 
Podemos simplesmente escrever um:

Encher de vãs palavras muitas páginas 
E de mais confusão as prateleiras. 
Tropeçavas nos astros desastrada 
Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas.
Caetano Veloso

O livro segundo Gurbuz


"O tempo passa, mas o livro permanece. A vida do leitor mede-se em horas; a do livro, em milênios"
George Steiner




“O livro é um importante fator de desenvolvimento econômico e social de uma nação, uma verdade nem sempre lembrada” 
Raul Wassermann


"Muitos homens iniciaram uma nova era na sua vida a partir da leitura de um livro" 
 Henry David Thoreau 


"A leitura nutre a inteligência"  
Sêneca  


"Que imenso tesouro pode estar oculto em uma biblioteca pequena e selecionada! A companhia dos mais sábios e dignos indivíduos de todos os países, através de milhares de anos, pode tornar o resultado de seus estudos e de sua sabedoria acessíveis para nós" 
Ralph Waldo Emerson

Gurbuz Dogan Eksioglu é cartunista turco

sexta-feira, setembro 19

É preciso advertir


A gente pode perder a vida na biblioteca. Deveriam advertir sobre isso
Saul Bellow 

Leitura ativa cérebro


Quando você executa qualquer movimento motor, como soprar uma vela, segurar um garfo ou bater uma bola, acaba ativando uma área específica do córtex cerebral associada com a execução de ações voluntárias. Surpreendentemente, utilizando os recursos da neuroimagem, pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, descobriram que essa parte do cérebro também é ativada quando uma pessoa escuta ou tranquilamente lê um romance.

 A pesquisa apontou que essas áreas entram em funcionamento quando certos verbos referem-se a movimentos como por exemplo, fumar, jogar e pular. Em outras palavras, um livro é emocionante quando trabalha com os diversos sentidos do leitor.
(Fonte: Universia)

Relançado 'Migo"

 Da mesma forma que construiu obras sólidas na área da antropologia e da educação, Darcy Ribeiro se destacou também como escritor ficcional, com títulos como “Maíra”, “O Mulo” e “Utopia selvagem”, relançados recentemente pela Global Editora. Dando continuidade à reedição da obra desse importante antropólogo, educador e escritor brasileiro, a editora leva às livrarias “Migo”.

Nesse livro, Darcy Ribeiro narra, em primeira pessoa, a história de Ageu Rigueira, um escritor nascido no interior de Minas Gerais e que parte para a capital, Belo Horizonte, para aperfeiçoar seus conhecimentos e se tornar um intelectual. Já sexagenário, Ageu revê as escolhas que fez ao longo de sua vida, relembra as leituras que mais o inspiraram, os amigos mais fraternos, as mulheres que amou e as que quis amar.

O livro pode ser percebido como uma obra memorialista em que as lembranças funcionam como fio condutor entre a ficção e a realidade. Publicado pela primeira vez em 1988, no Brasil, e em 1994, na Alemanha, o livro possui 193 capítulos curtos, que formam uma espécie de mosaico de peças em movimento, e que acabam por se assemelhar à própria personalidade de Darcy. Nessa obra, o autor elabora um enredo em que discute a dor e a delícia de ser escritor. Essa discussão sobre o cerne do ofício permeia todo o livro, como uma forma de repensar a existência e compreender seu lugar no mundo. 

quinta-feira, setembro 18

Manias de quem lê

Como já dizia a música "Mania é coisa que gente tem e não sabe por quê..."







Um filme, um livro


Este ano, a Feira do Livro de Frankfurt elegeu o filme "O homem mais procurado" (A most wanted man – 2014) como a Melhor Adaptação Literária Internacional. O filme, dirigido pelo holandês Anton Corbijn, foi o último trabalho de Philip Symour Hoffman, morto em fevereiro deste ano. A película é uma adaptação do romance homônimo de John le Carré. O thriller conta a história do agente secreto Günther Bachmann, interpretado por Seymour Hoffman. 

Patrimônio em recuperação



Passada uma década desde o incêndio que destruiu grande parte de seu acervo, a Biblioteca da Duquesa Anna Amalia de Weimar, no estado alemão da Turíngia, está a caminho da recuperação. Os danos arquitetônicos foram praticamente reparados e o salvamento de seus centenários livros está em franco progresso.

Os casos mais difíceis de recuperação terão que passar alguns anos nos ateliês. Porém muitos já foram recuperados, e das 50 mil publicações perdidas, 10 mil puderam ser readquiridas em antiquários. E, tanto tempo depois da catástrofe, alguns livros tidos como perdidos têm até mesmo aparecido.

Um deles é uma primeira edição de De revolutionibus orbium coelestium, de Nicolau Copérnico, encontrada sob um monte de cinzas num caixote. Com as descobertas e deduções sobre a Terra e o sistema solar, lá expostas, em 1543 o astrônomo polonês sacudiu a concepção medieval do universo.

quarta-feira, setembro 17

Imagem do Dia

Vincenzo Irolli, Uma leitura tranquila 

Os livros de Selçuk


Selçuk Demirel, ilustrador turco radicado em Paris,
utiliza frequentemente o livro e a leitura como metáfora.

Biblioteca em bosque

Margaret Atwood e Katie Paterson passeiam
em trecho plantado do novo bosque
Surge em Oslo a Future Library (Biblioteca do Futuro), projeto artístico da escocesa Katie Paterson, que crescerá durante os próximos 100 anos nas árvores, plantadas no último Verão no bosque de Nordmarka, nas proximidades da capital norueguesa. A cada ano, durante o próximo século, um escritor contribuirá com um texto para o projeto custeado e inédito até 2114, quando então a antologia dos cem autores será impressa no papel das mil árvores plantadas há poucos meses.

A inauguração do projeto foi com a escritora canadense Margaret Atwood que já começou a escrever sua colaboração do primeiro ano. Segundo Atwood, a ideia do projeto é de que se crê que a raça humana continuará existindo dentro de 100 anos.

Para abrigar os textos e os livros do próximo século da Biblioteca do Futuro, Paterson também desenha uma sala na nova biblioteca pública de Oslo, que deve ser inaugurada em 2018 em Bjørvika.  

terça-feira, setembro 16

Mar de páginas naufragas

Jose Rosero

Semelhantes

Creio que os leitores sérios e onívoros são semelhantes – intensos em sua dedicação à palavra, introvertidos mas animados e ansiosamente falantes quando encontram outros leitores e espíritos afins
Paul Theroux

O outro Schindler

Julio Schindler no lançamento do seu livro
O mesmo sobrenome, duas épocas e a mesma coragem de resgatar e proteger os perseguidos. Oskar Schindler, foi representada no filme “A lista de Schindler” (1993), de Steven Spielberg, a do segundo está contada no livro “A lista do Schindler chileno”, lançado agora no Chile contra a história de Jorge Schindler Etchegaray, um descendente de alemães e ex-membro do Partido Comunista que foi executivo da Corfo (Corporación de Fomento de la Producción de Chile) durante o governo de Salvador Allende. Escrito pelo jornalista Manuel Salazar, que teve de convencer Julio Schindler a desencavar sua trajetória, o livro conta com um extenso depoimento seu, além de 60 entrevistas de ex-protagonistas. Um deles é Quintín Romero, um dos policiais que permaneceu ao lado de Allende até o instante de sua morte, no mesmo dia do golpe, que se refugiou em uma das farmácias de Santiago.

Depois de perder seu trabalho com o golpe militar de 11 de setembro de 1973 no país, ele criou uma rede de farmácias de bairro para socorrer membros do PC, destruído com a repressão, empregando-os como funcionários das farmácias com a ajuda de seu amigo e farmacêutico, Ramiro Ríos, ao longo da década de 70. Foram cerca de cem dirigentes da esquerda chilena que tiveram suas vidas salvas por esse projeto de fachada, que jamais foi descoberto pelos dois principais órgãos de controle social de Pinochet, a Dirección de Inteligencia Nacional (DINA) e o Comando Conjunto.

Para manter essa empreitada, o empresário chegou a alugar casas, dar apoio financeiro, distribuir medicamentos e inclusive esconder armas de fogo de militantes em operação de fuga. Com medo de ser pego pela polícia, escapou para a Alemanha Oriental em 1979 e terminou se mudando para Frankfurt, onde mantinha contato com o Partido Comunista
.

segunda-feira, setembro 15

Não se improvisa

"São necessários anos de leitura atenta e inteligente para se apreciar a prosa e a poesia que fizeram a glória das nossas civilizações. A cultura não se improvisa"  
Julien Green 

Essas estranhas bibliotecas

Argentina lembra Bioy Casares


Os argentinos homenagearão nesta segunda-feira o escritor Adolfo Bioy Casares (1914 — 1999) em diversas cerimônias em todo o país, de forma a recordar o centenário de seu nascimento. Entre as principais, o autor de "Diário da Guerra do Porco" está sendo o foco de lançamentos de edições de bolso da maior parte de seus livros.

A obra de Bioy Casares está sendo debatida desde a semana passada em diversas jornadas de conferências na Biblioteca Nacional de Buenos Aires que reuniram os principais intelectuais da área literária argentina. O escritor também será homenageado por seus trabalhos fotográficos com uma exposição no Centro Cultural San Martín, a partir do dia 28,, que mostrará uma faceta quase desconhecida do autor, a de fotógrafo. Bioy Casares, além de retratar a família, fez fotos da nata cultural portenha durante décadas.