quarta-feira, dezembro 10

Leitura e postura


Alguns anos atrás, o professor Ítalo Moriconi, em uma mesa redonda no Itaú Cultura, lembrou que o aprendizado da leitura inclui também o aprendizado social da postura, ou das posturas de leitura. Ler é uma necessidade social, não tem nada de “natural” nisso, e por isso mesmo temos que aprender. E, ao aprender a ler, somos forçados a aprender determinadas posturas associadas a esse ato. Como segurar um livro, jornal ou revista, por exemplo. E que não é viável ler de cabeça para baixo (nem o livro, nem com o leitor de cabeça para baixo), já que isso entra no domínio das habilidades circenses.

Quem já assistiu aulas de alfabetização de adultos – e falo especialmente desses belos esforços de ensinar pessoas já velhas a ler – percebe claramente a dificuldade que essas pessoas demonstram para segurar um livro, pegar em um lápis. Nós aprendemos essas posturas da mesma forma como aprendemos muitas outras regrais sociais e normas de comportamento, desde a primeira infância.

Essa questão da postura, principalmente em acontecimentos públicos, assim como a distância física que deve ser mantida entre as pessoas é tema bem conhecido dos antropólogos, mas não vem ao caso aqui.

O caso aqui é que, há um ano e meio, um amigo do meu filho, que também conheço há muitos anos, chamou minha atenção, dizendo que eu estava andando e ficando parado de modo muito curvado. Ainda pensei em dizer que era o peso da idade, mas ele falava a sério. Pediu que eu fosse à clínica que tem com um amigo para uma avaliação da postura e do que poderia ser feito. Eles trabalhavam também com isso.

Tratava-se do Alexandre Blass, que é professor de educação física, e seu amigo é o Marcelo Semiatzh. Os dois são especialistas em corrigir posturas e treinos específicos para atletas de alto rendimento. Eu não sou atleta, muito menos de alto rendimento, mas eles começavam, naquela época, a trabalhar com pequenos grupos de pessoas para desenvolver esse processo de correção de posturas e exercícios, que eles chamam de “Força Dinâmica”.

 Como tudo no mundo acaba em livro, os dois acabaram de lançar o deles, chamado precisamente Força dinâmica – Postura em movimento, no qual explicam o método e orientam os leitores. Um ponto alto do livro são seus capítulos introdutórios, que revelam uma cultura humanística e uma fluência de escrita que não são muito esperadas em treinadores de atletas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário