quarta-feira, dezembro 10

Assim começa o livro...


Numa rua estreita e sem sol de Barcelona morava, havia pouco tempo, um desses homens de semblante pálido, de olhar cavo e embaciado, um desses seres satânicos e bizarros como os que Hoffmann desenterrava em seus sonhos.

Era Giácomo, o livreiro.

Tinha trinta anos e já passava por velho e acabado; possuía alta estatura, mas curvada como a de um ancião; seus cabelos eram longos, mas brancos, suas mão eram fortes e nervosas, mas secas e enrugadas; seus trajes era miseráveis e andrajosos, possuía o ar guache e atrapalhado, sua fisionomia era pálida, triste e até insignificante.

Raramente era visto nas ruas, a não ser nos dias em que eram vendidos em leilão lotes de livros raros e curiosos. Então, não era mais o mesmo homem indolente e ridículo, seus olhos se animavam, corria, caminha, saltitava, mal podia moderar sua alegria, suas inquietações, suas angústias e suas aflições; voltava para casa ofegante, esbaforido, sem fôlego, tomava o livro querido, olhava-o com ternura, contemplava-o e amava-o como um avaro o seu tesouro, um pai sua filha, um rei sua coroa.

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