sexta-feira, setembro 12

A fauna livresca

Os leitores, de Theresa Bernstein (EUA, 1890-2002)
Acontece que, numa biblioteca, pela sua própria destinação, todos os gêneros haverão de ter guarida. E convém lembrar, no caso, o comentário de Voltaire, de que todos os gêneros são bons, exceto o enfadonho. Este gênero enfadonho, porém, dada a variedade de gostos, tendências, níveis culturais, como será de precária qualificação! O escritor francês Jean Pouget trata daquela prateleira de sua biblioteca reservada aos acaso do dia ou da noite, para neles buscar uma ideia de que se extrai o suco, um pensamento a ser saboreado lentamente durante o tempo de uma meditação ou enquanto chega o sono.

E que gente pitoresca e surpreendente pode ser a gente, a fauna livresca! Tanto em si mesma, como na opinião dos outros. Heródoto fala, por exemplo, num rei da Capadócia, que havendo recebido de seu colega da Frígia, como presente incomum, um elefante, assim correspondeu: “Também eu vos envio um animal estranho: um filósofo”. Não seria, talvez (e com o devido respeito), uma retribuição imprópria.
Américo de Oliveira Costa (1910-1996)

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