domingo, agosto 3

Assim começa o livro...

As calcinhas

Cazuza, de Viriato Corrêa
Não me lembro qual a minha idade quando ficou decidido que, no ano seguinte, eu entraria para a escola.

Mas eu devia ser muito e muito pequeno. Tão pequenino que não pronunciava direito as palavras e ainda chupava o dedo e vestia roupinhas de menina.

Mas não imaginem que eu fosse um menino excepcional, desses meninos prodígios, ajuizados e sisudos, que não riem,. Não brincam e não saltam,. Dando à gente a impressão de que já nasceram velhos.

Pelo contrário. Eu era uma criança alegre, traquinas e estouvada, que vivia correndo pelo quintal e fazendo estripulias pela casa.

Dois motivos é que me deram vontade de estudar.

O primeiro deles – as calças. Desde que me entendi, tive a preocupação de ser homem e nunca me pude ajeitar nos vestidinhos rendados de menina. Sempre olhei com inveja os garotos mais taludos do que eu, não porque eles fossem maiores e gozassem regalias que os garotinhos não gozam, mas porque usava calças.

Minha mãe prometia frequentemente:
- Quando você entrar para a escola deixará dos vestidinhos.

E, por amor às calças, comecei a mostrar amor aos livros.

O segundo motivo é que o primeiro contato que tive com uma escola foi através de uma festa. E ficou-me na cabeça a ideia de que a escola era um lugar de alegria.

Eu conto a vocês.

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