quinta-feira, julho 17

Falta de bibliotecas e as verbas da educação


Lei federal determina que, até 2020, todas as escolas do Brasil tenham bibliotecas, com, no mínimo, um livro por aluno matriculado. É lamentável verificar que a meta está longe de ser alcançada, como demonstra o Censo Escolar 2013, ao indicar que contam com esse equipamento apenas 12,4% dos estabelecimentos do Ensino Fundamental e do Médio das redes municipal e estadual do município de São Paulo. E estamos falando do Estado e da cidade com os maiores orçamentos nacionais. 

A ausência de bibliotecas em escolas públicas compromete as metas relativas à formação de novas gerações de leitores e a própria qualidade do ensino, considerando a importância dos livros e do ato de ler para os resultados do aprendizado. O Brasil precisa avançar muito nesse sentido, como demonstram as notas do exame internacional PISA, realizado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em abril último, foram divulgados os resultados da primeira avaliação da capacidade de resolução de problemas de matemática aplicados à vida real.

Participaram 85 mil estudantes, de 44 países. O Brasil ficou em 38° lugar, atrás apenas da Malásia, Emirados Árabes Unidos, Montenegro, Uruguai, Bulgária e Colômbia. Nos primeiro lugares encontram-se Singapura, seguida da Coreia do Sul, Japão e China. Aproximadamente 40% dos estudantes brasileiros que participaram da avaliação alcançaram os níveis 1 e 2 de conhecimento, que são os mais baixos. Somente 1,8% de nossos alunos conseguiu situar-se nos patamares mais altos (5 e 6), com capacidade de resolução de problemas matemáticos mais complexos. Dentre os estrangeiros, 11% conseguiram resolver as questões complexas.

O Pisa é realizado a cada três anos. Participam adolescentes com idade de 15 anos, ou seja, são os alunos que estão passando do Ensino Fundamental para o Médio. O exame é reconhecido internacionalmente como um dos parâmetros de avaliação dos conhecimentos de matemática, leitura e ciências. Na prova anterior, divulgada em dezembro de 2013, na soma dessas três disciplinas, o Brasil ficou na 58º posição, dentre 65 países.

No exame divulgado em abril, relativo à compreensão da matemática na vida real, uma das dificuldades de nossos estudantes foi a compreensão dos enunciados. Isso ratificou posições anteriores dos brasileiros no PISA. Em edições anteriores, inclusive quando avaliada a performance em leitura, também ficamos nos últimos lugares. A psicolinguista argentina Emilia Ferreiro, uma das maiores autoridades mundiais em alfabetização, que influenciou bastante os Parâmetros Curriculares Nacionais do Brasil, observa: “Para ensinar a ler e escrever é necessário utilizar diferentes materiais. Um livro só não basta. É preciso utilizar livro, revista, jornal, calendário, agenda, caderno, um conjunto de superfícies sobre as quais se escreve”.

Assim, não é sem razão que a indústria gráfica, por meio do Sindigraf-SP e da Abigraf-SP, entidades que a representam no Estado de São Paulo, mantêm o Projeto de Revitalização de Bibliotecas. Já foram entregues 16 desses equipamentos, com um acervo básico de livros, em municípios do interior paulista onde os alunos das escolas públicas não dispunham desse recurso. Acreditamos a sociedade civil, embora a educação seja obrigação constitucional do Estado, deva contribuir para que os estudantes de baixa renda tenham mais acesso aos livros.

A questão do ensino é uma das prioridades da indústria gráfica, e não apenas pelo seu justo interesse capitalista de que se imprimam mais livros no País. O significado da leitura e da educação transcende a essa questão econômica. Estamos falando de justiça social, democratização de oportunidades, acesso ao conhecimento e desenvolvimento socioeconômico.

Por isso, as entidades de classe que representam o setor — Abigraf Nacional, Abigraf-SP e Sindigraf-SP — aplaudiram a aprovação, na Câmara dos Deputados, do Plano Nacional da Educação (PNE). O item do projeto que prevê investimento gradativo de 10% do PIB na rede pública nos próximos dez anos foi pioneiramente sugerido no Congresso Brasileiro da Indústria Gráfica, em outubro de 2011, em Foz do Iguaçu, Paraná. A necessidade de mais dinheiro para o ensino é escancarada quando se constata que, na segunda década do Século 21, 88% das escolas públicas da cidade mais rica do Brasil não têm biblioteca.


*Fabio Arruda Mortara é o presidente do Sindicato das Indústrias Gráficas no Estado de São Paulo (Sindigraf-SP).    

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