domingo, julho 27

A 'orelha' do inédito de Suassuna


Nos últimos 30 anos, Ariano Suassuna se dedicava ao livro mais caudaloso e importante da carreira literária, “O jumento sedutor”, que atingiu duas vezes a versão final, encaminhada para a editora. Com de cerca de 300 páginas, reúne romance, teatro e poema, além de ilustrações dele, tudo escrito à mão por Ariano e digitado posteriormente, como sempre fazia. "O livro está pronto. Ele não estava escrevendo o livro, mas fazendo modificações, que não sei o que eram", explica Maria Amélia de Mello, da José Olympio, responsável por todo o catálogo do artista, à exceção de “A pena e a lei” e “Auto da Compadecida”, ambos da Agir.
Leia mais sobre o livro

Apresentação de livro inédito de Ariano Suassuna


Raimundo Carrero
Este livro é uma Revelação, assim mesmo com letra maiúscula e tudo, para ressaltar a questão reliogiosa-teológica, assim como histórico-literária; porque não é uma Odisséia nem uma Epopéia, no sentido de contar a história de um povo, com suas lutas e seus feitos heróicos; porque não é uma novela, com tudo de maravilhoso que se espera de um texto assim; como não é também um romance, por aquilo que supera em muitos pontos o que se diz numa obra de ficção, com os seres transtornados, felizes e as almas sacrificadas.
É mesmo uma Revelação ao trazer à luz o espírito vivo, mágico e grandioso do verdadeiro Brasil, a iluminar e esclarecer nossa formação inquieta e revolucionária, e ao desvendar, em estilo ou estilos que se consagram pela luminosa interpretação da cor, da raça e do sangue do brasileiro, seus amores, suas intrigas, e suas aventuras e, ainda mais, oferecendo-lhe um caminho e um destino como fizeram Dostoievski e Tólstói da Rússia, ou com Cervantes já fizera antes com a terra áspera e montanhosa da Espanha, transformada em Grande Teatro do Percy Lubock diz que Tólstoi escreveu Guerra e Paz com as duas mãos. Enquanto a esquerda escrevia a Epopéia russa, a direita redigia um romance. Ariano Suassuna, porém, escreve este livro com as duas mãos, o coração, a mente, os nervos e o sangue, dando-lhe a dimensão de notável obra-prima, dessas capazes de iluminar não apenas personagens e situações, mas de revelar os caminhos de um povo traça para formar a sua grandiosidade e sua força; por isso, está muito acima do que comumente se escreve neste e noutros países. Aqui, a literatura de ficção vai além daquilo que se convencionou chamar de textos literários, pelo menos no sentido que nós conhecemos. Personagens, por exemplo, não são apena metáforas e símbolos, assumem a dimensão de Mitos e se revelam e se transformam durante todo o livro.
O leitor que se prepare para ter visões deste Brasil que se levanta aqui e que, por razões óbvias, ainda não se dera totalmente a conhecer, mesmo em obras fundamentas como Os sertões, de Euclides da Cunha, ou Grande Sertão-Veredas, de Guimarães Rosa. Estruturado em canas teatrais, Repentes, Epístolas, cantares e cordel, o Livro se apresenta como um espetáculo de circo, ao mesmo tempo popular e erudito, com muitas variações e exibições que desafiam, grandemente o espectador. Porque aqui o leitor não é apenas um leitor, é muito mais do que isso, é leitor, participante e espectador, no que revoluciona toda a prosa brasileira, desde seus textos mais tradicionais e conservadores, passando pelas vanguardas, até o caminho pronto, a nos indicar o verdadeiro e definitivo destino da ficção nacional.

Então, o espectador, participante ou leitor, que se prepare para acompanhar as páginas que vão se agigantar revelando – para seguir a Revelação -, numa plena realização Estética, Social Religiosa e Profana, tudo isso que reunido forma a prosa literária e que é atributo dos escritores guiados pelo Espírito e pelo Sangue e não apenas pela caneta e pelo papel, como se dizia antigamente.E

Nenhum comentário:

Postar um comentário